21 abril 2012

sobre regulamentação de designer (e devaneios relacionados)


como a maioria dos leitores designers deve saber, saiu recentemente o primeiro passo para a regulamentação definitiva da profissão no país. eu trabalho desde 1997. passei por estágios, empregos "nada a ver", patrões escrotos e salário mínimo. se fosse há 10 ou 15 anos atrás eu louvaria essa conquista, mas a esta altura do campeonato, me pergunto o que diabos há pra comemorar.

estamos finalmente diante de um mundo integrado, a aurora do futuro, onde qualquer pessoa tem acesso a informação e dispositivos para crescer (pessoalmente e profissionalmente). e estranhamente, ao mesmo tempo que as pessoas comemoram essas conquistas, também parece haver um medo do "outro" tomar seu lugar, seu emprego. mas isso é tão século XX, não?

os anos 90 foram um marco do enfraquecimento dos sindicatos. este início do século XXI estimula a qualidade de vida, home-office, o empreendedorismo, o ganhar dinheiro sendo feliz com seu trabalho, a criação de objetivos profissionais claros. há centenas de livros, sites, twitters de auto-ajuda empresarial falando sobre a conquista de trabalhar com o que gosta e principalmente ganhar dinheiro com o que gosta. as vezes até ficar milionário com isso. não que todos tenham que virar empresários, até porque não é o perfil de todo mundo, mas precisa de sindicato pra mostrar a direção? e ele fará isso?

teremos número de registro a exemplo de outras associações de classe. o designer vai assinar um projeto. isso quer dizer que ele será responsável por um projeto dando ele certo ou não. espero que venha acompanhado de um gordo aumento salarial porque muitos designers profissionais já fizeram "o que o cliente (ou patrão) queria e ponto final". queria entender como vai ficar essa relação porque assinar embaixo o que os outros mandam precisa de algum incentivo.

base salarial? sério? isso vai acontecer?

ainda que funcione tudo 100%, o que não compreendo é porque então já não mudou? designers ainda precisam de um sindicato dando a mão? um jovem estudante, um recém-formado, talvez. quando eu era estudante fui associado ADG. pagava uma taxa mensal e recebia entre outras coisas a revista. eu cresci muito vendo e reconhecendo o trabalho de 'grandes' profissionais, mas ninguém me obrigou a isso. eu fui porque sabia que precisava. queria aprender mais.



toda hora tem um designer fazendo piada com seus clientes ou empregadores. precisamos de um sindicato pra explicar o que pode e o que não pode? vejo anúncios exigindo muito e pagando pouco. vai quem quer (ou precisa). quando falam em 'prostituição do mercado' lembre-se que mesmo entre as putas têm as que cobram R$ 20 e as que pedem R$ 3.000 e depois viram filme. a 'prostituição' (no sentido negativo da palavra) é o profissional quem faz quando define seu próprio valor. e isso, na pior hipótese se aprende na prática, como tudo no trabalho de qualquer pessoa.

quando eu estava na faculdade dizer que não ligava pra diploma era assustador. hoje é mais que sabido que faculdade, papelzinho, comprovante não prova nada. o que prova é seu trabalho, a qualidade dele, o comprometimento, o quanto se estuda aquilo. não posso ser a favor de um movimento que colocaria profissionais ruins na mesma média que os excelentes, portanto, na contramão da história.

parênteses
outro dia, antes de concluir esse texto, fui tomar uma cerveja e jogar sinuca. enquanto errava uma tacada e outra, percebi que até mesmo num jogo tão banal quanto a sinuca tem os que levam tão a sério a ponto de se profissionalizar. o interessante desse raciocício é que não importa o que se faça: quem se profissionaliza é o indivíduo que deseja ser profissional.
fim do parênteses

é evidente que existe uma cultura do menor esforço, e veja, não estou citando classes sociais, é cultural e atinge a todos. quantos colegas tínhamos na escola que liam somente os livros que a escola obrigava a ler?

agora um motivo claramente #classemediasofre: teremos mais um imposto. seremos todos taxados a pagar um auxílio do qual muitos não sentem falta... porque... não faz falta! eu gostaria de saber dos amigos jornalistas e publicitários em que circunstâncias foram assistidos por seus sindicatos. o jornalismo inclusive já não exige nem diploma. publicitários então... há os que preferem criar tumblrs e rir da própria desgraça ao invés de tomar uma atitude real. o que esperamos? que fiscais apareçam de capa vermelha para nos salvar da tirania dos patrões malvados? 

escorregar a discussão para "designers x micreiros" é outra coisa datada, atualmente sem sentido. primeiro que todos nós nascemos micreiros, é a ordem natural do jovem que descobre a profissão (tal qual o sinuqueiro). o tal incentivo ao empreendedorismo atinge todas as pessoas economicamente ativas lançando oportunidades no mercado a todo instante. é preciso estar ligado, bem preparado e disposto para agarrar. segundo que há mercado para tudo e para todos. democracia é assim: tanto deus quanto o diabo tem direito a falar no púlpito. cada um encontra sua tribo, seu nicho, seu espaço. digamos que sejam proibidos os 'sobrinhos' que fazem aqueles flyers horríveis de festas duvidosas. isto é certo? nem todo mundo pode ou quer comprar na Macy's. para alguns C&A está ótimo e isso deve ser respeitado em vários ângulos.

então veja que não faz sentido distribuir título de designer a recém formados (sorry, galerinha da facul) porque profissional mesmo só é quem quer. e o melhor recurso pra isso é o bom e velho Semancol.

ademais, parabéns ao Bruno Porto e demais envolvidos nesse trabalho. embora eu seja contra a regulamentação, desde que me entendo por designer acompanho o esforço do Bruno e outros nesse sentido. só acho que chegou tarde demais e fora do contexto para o futuro.

outras manifestações contra regulamentação: http://designices.com/design-nao-tem-regulamentacao-ainda-bem/http://reservademercadonao.com/

quem quiser comentar, saiba que é bem vindo.
abs, t. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, sou designer recém formado. Trabalho a cerca de 5 anos na área.
Concordo com você. Ótimo texto.

thiago costa disse...

obrigado. "Continue faminto, continue tolo"